Vatnajökull: lar do Grimsvötn e outros vulcõezinhos

Um ano depois, a Islândia volta a chamar a atenção por causa de um vulcão. O Grimsvötn fica quase no meio da Vatnajökull, a maior geleira da Europa e que cobre 8% da ilha. Justamente por isso, não tá tão acessível. É difícil chegar lá e um tanto perigoso também. Mesmo que não esteja em erupção, como aconteceu esta semana, o Grimsvötn é o vulcão mais ativo da Islândia, pode derreter parte da geleira a qualquer momento. Geralmente, só pesquisadores se atrevem a vê-lo. E quem tem (bastante) dinheiro, pode tentar alugar um helicóptero para vê-lo do alto, se o tempo permitir.

Lá de cima

Mas na geleira Vatnajökull, em si, é muito mais fácil de chegar. Eu fui como parte daquela viagem para Höfn. Dormi em Höfn justamente para ter tempo de passar um dia inteiro na Vatnajökull – onde há vários outros vulcões em atividade. Na cidade, contratei um guia para me levar, com um carro 4 x 4, até a geleira e a Jöklasel, uma cabana à beira da camada de gelo, que fica a 840 metros acima do nível do mar. Lá, é possível contratar outro guia para te levar num passeio de snowmobile pela geleira. Quando o tempo está bom, da Jöklasel é possível ver o mar . Mas no dia em que fui, não dava.

Na subida, enquanto ainda dava para ver o mar

Para o alto e avante!

Na verdade, mal dava para ver 100 metros à frente do snowmobile. O guia disse que estava ocorrendo uma tempestade no meio da geleira, que iria ventar muito e fazer mais frio do que normalmente faria naquele dia de “verão”. Ok. Vesti o macacão, o gorro, os óculos, e calcei as luvas. Rumo à geleira.

Acho que se fosse possível ver o gelo à frente, teria sido uma experiência diferente. A paisagem ali acabou não importando tanto, por causa da má visibilidade. O que gostei foi do frio na barriga de não conseguir ver para onde ia, da adrenalina de só encontrar (perigosas) rachaduras no gelo quando já estava perto, e de ter guiado o snowmobile, mesmo sem saber dirigir ou guiar moto. Sem contar que estava fazendo -18ºC, com sensação térmica de -28ºC. Ou seja, meu recorde de frio.

A trilha deixada pelo meu snowmobile

Rachaduras no gelo

Minhas lembranças de Vatnajökull são engraçadas: não conseguir ver nada, a névoa branca à frente, o frio literalmente congelando meu rosto. Não sei como é a vista de cima da geleira. Mas não fez falta, garanto.

Pedras vulcânicas, gelo, frio: um resumo da Islândia

Eu fui para Höfn de ônibus, saindo de Reykjavík. Mas na capital também dá para comprar pacotes que te levam para o Sudeste da Islândia de avião, para visitar a Vatnajökul e a Jökulsarlón. Pra mim, só vale a pena se você estiver com muita pressa. A viagem Reykjavík-Höfn é tão linda que merece ser aproveitada.

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La Pasiva: chivito e pancho para matar a fome no Uruguai

Quando você diz que está de malas prontas para Montevidéu, duas dicas costumam ser onipresentes: vá ao Mercado del Puerto e ao La Pasiva. O primeiro é um antigo mercado com vários quiosques de churrasco, orgulho do Uruguai. Imperdível mesmo. O segundo é uma rede de restaurante/lanchonete/choperia que tem dois sanduíches como atração turística: o básico e delicioso pancho, um cachorro-quente sem molho, só pão de leite e salsicha; e o chivito, um tipo de x-tudo que pode ser de filé, lombo canadense ou outros frios.

O La Pasiva de Ciudad Vieja

La Pasiva

“Ah, mas que graça tem em pão com salsicha sem molho?”, você diria. Pouca, é verdade. O pulo do gato do La Pasiva está num molho branco, que não é maionese, que os uruguaios usam no pancho como se o mundo fosse acabar. A receita é tão secreta que o molho nem tem nome, é apenas “la salsa”. Sozinho, tem um gosto bem estranho, ácido. Mas combina tão perfeitamente com a salsicha que fez do pancho do La Pasiva um clássico dentro do clássico que já é o cachorro-quente.

O pancho, em versão sem salsa...

 

... e com salsa

O chivito também é feito com um pouco dessa salsa no pão. Mas acho que não vale muito a pena acrescentar, como se fosse catchup ou mostarda. Aliás, no chivito nenhum molho precisa ser acrescentado – basta o pouco da salsa que já vem com ele. O pão é tostado, aí vem o molho, a carne, um ovo cozido e a salada. É, sem queijo. Não precisa de queijo. Não precisa de nada. É perfeito do jeito que é. E, completíssimo, vale por uma refeição!

Poderoso mata-fome

Close no chivito!

Fazendo a pesquisa para saber se o molho tinha mesmo um nome ou não, me deparei com a informação que tem La Pasiva na Argentina e no Rio Grande do Sul. Quero ir quando for a Porto Alegre! No site consta que o endereço é Av. Cristóvão Colombo, 545 – Shopping Total – Porto Alegre/RS.

Anotado.

(Não, este não é um post patrocinado. É um post de fã)

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Domingo de sol em Montevidéu

Fazia 30 graus, mas o calor parecia bem pior do que quando faz 30 graus no Rio. Essa não foi a única surpresa. Não imaginei que os moradores de Montevidéu aproveitassem tanto a Rambla, o calçadão que une a cidade, do Centro a Pocitos.

Não cheguei a andar até Pocitos. Preferi ficar no Centro. E achei bem legal aquela tarde de novembro.

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Mercado del Puerto: água na boca

Para quem gosta de comer e beber bem, um dos melhores programas de Montevidéu é o Mercado del Puerto. Trata-se de um pólo gastronômico, em um mercado do século 19, em frente ao porto, com 14 pequenos restaurantes – na maioria, você terá que se sentar no balcão. Mas essa é a graça! Ver as carnes sendo assadas, as grelhas coloridas com os pimentões e queijos, dá ainda mais água na boca.

O mercado

Embora seja um local simples, os preços no Mercado del Puerto não são exatamente baratos. Mas também não são caros – depende do corte pedido. E a qualidade das carnes compensa, muito. São pesos uruguaios deliciosamente bem gastos.

Mãos à obra

Muita gente nos fins de semana

Clima beeem mais tranquilo durante a semana

O mercado fica lotado aos sábados e domingos. É quando os uruguaios fazem uns de seus programas preferidos: sentar com uma taça de medio y medio, jogar conversar fora e, quando a fome bater, partir para um corte de carne sempre suculento. Como na Argentina, geralmente a carne vem sozinha. Se quiser, pergunte se tem acompanhamento. Os cortes, entretanto, são tão bem servidos que eu acho que nem precisa. Basta o chimichurri.

A picanha com o medio y medio do Palenque, mais seco, e uma taça do Roldós, mais doce

O medio y medio é uma bebida típica do Mercado del Puerto. Aliás, em Montevidéu, só é possível encontrá-la nos quiosques. Quer dizer, tem para vender nos supermercados também, mas nos outros restaurantes da cidade, não. É uma mistura metade-metade (como o nome indica) de vinho branco suave e espumante. Uma delícia. Refrescante. A mistura não é feita na hora, vem em uma garrafa com a marca do próprio quiosque. E não se preocupe: você não precisa pedir uma garrafa, se estiver sozinho. Eles vendem por taças também.

Os medio y medio do Mercado del Puerto são os do bar Roldós e do restaurante El Palenque. O do Roldós é mais docinho e o do Palenque, mais seco. Gostei do primeiro para beber sozinho, como aperitivo, antes de comer. É um programa mesmo: sentar no balcão e ficar conversando e bebericando. Eu tomei o segundo nas duas vezes em que comi no Palenque e acompanhou picanha e carneiro. A maioria dos uruguaios iria preferir combinar a carne com vinho tinto, mas eu não queria perder a oportunidade de beber medio y medio. Achei que combinou, sim. Sabe quando combina contrastando, complementando? Foi assim.

E, sim, fui no Mercado del Puerto várias vezes. Bem no plural. Fiquei viciada. Fui lá todos os dias em que estive em Montevidéu. Fiz questão de almoçar lá sempre. E é a lembrança mais saudosa que tenho da cidade, das tardes de medio y medio e boa carne…

O Mercado del Puerto fica na esquina das ruas Piedras e Yacaré. É fácil achar, dá pra ver de longe. Apesar de ficar aberto nos fins de semana até as 21h, não é aconselhável andar por lá depois que escurece. O mercado fica numa área pouco movimentada da Ciudad Vieja, onde há muitos prédios abandonados e casos de furto nas ruas não são raros. Além disso, a maioria dos quiosques – todos, durante a semana – fecha às 16h. Então, nem vale a pena. É um programa para almoço, para passar a tarde. Um ótimo programa.

Fim de festa no Palenque

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Em Bonampak, as mais sofisticadas pinturas pré-hispânicas das Américas

A ida a Bonampak é feita no mesmo dia de Yaxchilán, por aquele tour comprado em Palenque. O sítio arqueológico maia ocupa 2,4 km, mas os visitantes vêem as construções mais impressionantes numa área bem menor: a Gran Plaza. É lá que ficam os prédios do reinado de Chan Muwan II, que aceitou assumir o trono desta cidade maia em 776  a.C.

Vista geral de Bonampak

Uma estela no centro da Gran Plaza

Estela mostra o rei

Apesar de pequena, Bonampak é única em um sentido: abriga afrescos que são considerados as mais sofisticadas pinturas pré-hispânicas das Américas. Olhando o Templo de las Pinturas de fora, você não imagina o quanto ficará maravilhado – mesmo que as pinturas tenham sofrido com a má conservação desde que o sítio foi “descoberto”, em 1946. Diagramas do lado de fora do templo ajudam a identificar a história contada lá dentro, a coroação de Chan Muwan II.

Templo de las Pinturas, enquanto estava em manutenção

O teto do templo, por dentro

A coroação de Chan Muwan II

Cortejo para a coroação

Eram os deuses astronautas

Quando visitei Bonampak, vários arqueólogos estavam trabalhando in loco, inclusive no Templo de las Pinturas. Tomara que consigam preservar essa maravilha dos povos nativos do continente.

Degraus curtos na escadaria. Os maias (e nós) eram obrigados a subir de lado, sem olhar o templo de frente, em sinal de reverência

Ao chegar lá em cima, o pit stop para recuperar o fôlego é inevitável

A serpente (deus Cha'a, da chuva) em um dos cinzéis de Bonampak

Vista do alto. E os arqueólogos trabalhando

Um dos calendários que mostram "o fim do mundo como os maias o conhecem" em dezembro de 2012

Depois de Bonampak, o tour Yaxchilán-Bonampak acabou e voltamos para Palenque, em duas horas e meia de viagem, pelo menos.

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Yaxchilán, a onírica rival de Palenque

Palenque e Chichen Itzá podem ser os sítios arqueológicos mais famosos do Sul do México, mas há outros igualmente impressionantes. Um deles é Yaxchilán, exatamente na fronteira com a Guatemala, à beira do rio Usumacinta, em Chiapas.

Pelo rio Usumacinta

O rio, aliás, é a única maneira de se chegar à antiga cidade maia. Eu fui a Yaxchilán partindo de Palenque, rumo à Frontera Corozal para, de lá, pegar um barco. Em Palenque, você pode pagar um passeio de um dia inteiro, que inclui Yaxchilán e Bonampak, outro sítio maia perto da Guatemala. Não é caro e essa realmente é a maneira mais barata de se chegar ao local. Por conta própria vai ser mais difícil, vai consumir muito mais tempo e dinheiro, por causa das passagens terrestres e porque você teria que alugar, por conta própria a lancha e contratar alguém para pilotá-la pelo Usumacinta – o rio é caudaloso e cheio de bancos de areia. Tem que ter experiência com ele, não dá para você simplesmente pilotar o barco, mesmo que saiba. A viagem pelo rio dura quase uma hora, partindo de Frontera Corozal. E o trecho Palenque-Frontera Corozal pouco mais de 4 horas.

A primeira visão de Yaxchilán que temos do rio

A cidade é muito legal porque suas ruínas estão bem completas e você anda por ela tendo aquela sensação de ser transportado no tempo. É inesquecível. A primeira menção sobre Yaxchilán apareceu em 1833. Mas o Instituto Nacional de Antropologia e História do México só fez escavações em 1972-1973, 1983 e no início da década de 1990. Justamente porque ainda é um pouco contramão chegar lá e porque a abertura do sítio é recente, a visitação é pequena. E a sensação de ser transportado no tempo fica melhor ainda: parece que você está um sonho.

A área central de Yaxchilán, a Gran Plaza

Yaxchilán, que significa “pedras verdes”, foi  grande centro maia no período clássico. Potência dominante no Usumacinta, teve sob seu jugo centros menores, como Bonampak. Era uma cidade rival de Palenque, com quem guerrou em 654: foi aliada de Piedras Negras e, por pouco tempo, de Tikal, ambas na Guatemala. Por ter sido uma cidade rica, guarda muitas esculturas lindas e as famosas estelas monolíticas talhadas, além dos relevos narrativos talhados nas pedras dos linteis das portas dos templos.

Vista do Usumacinta

Estela com a representação do líder Pájaro Jaguar IV

Relevo talhado nas pedras dos linteis contam a história da cidade

Mas se você tem medo de morcego, prepare seu coração. A entrada da cidade, em si, é pelo templo Labirinto, escuro e dentro do qual há váaaarios morcegos. Eles não fazem nada com os visitantes, mas até eu que não tenho medo – e estou acostumada com os rasantes deles na janela do meu apartamento, por causa da amendoeria que tem na frente – fiquei um tantinho em pânico. Tive que respirar fundo para vencer o pavor de andar pelo Labirinto – que, como o nome diz, não te leva em linha reta para dentro de Yaxchilán – nos corredores escuros, sabendo que os morcegos estavam voando por todo lado e fazendo aquele barulhinho irritante.

O Labirinto, antes de entrar na cidade

A entrada do Labirinto

Morceguinhos logo na entrada

Fachada do Labirinto, já dentro de Yaxchilán

Mas vale MUITO a pena vencer o medo. Yaxchilán é uma viagem no tempo. E se torna, depois que você volta para casa, aquele tipo de lembrança que te faz dar um sorrisinho, assim, do nada. Inclusive ao se lembrar dessa parte do morcego. 🙂

O campo de juego de pelota, jogo maia que lembra o futebol

Edifício 33, na Acrópolis, tem o telhado mais bem preservado do sítio arqueológico

Pirâmide na Acrópolis

P.S.: Além dos morcegos, outro bicho irritante de Yaxchilán são os mosquitos. Leve repelente e reaplique frequentemente, porque faz muito calor e derrete tudo.

Leia também:

Uxmal, beleza de arquitetura maia

Em Bonampak, as mais sofisticadas pinturas pré-hispânicas das Américas

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Conexão em Porto Alegre? Cheque antes a sua identidade

Uma dica para você que está indo para o Uruguai ou a Argentina no Réveillon e fará conexão em Porto Alegre: se a sua identidade for antiga ou estiver com aspecto de velha, leve, além da identidade, o passaporte.

Quando fui para o Uruguai em novembro (ainda sem post aqui, por falta de tempo), só levei a minha identidade. Ela está em ótimo estado, sem rasgos, e envolta em plástico. Mas fui avisada pelo pessoal da Gol ainda no Rio que havia uma grande chance de eu não ser liberada pela Polícia Federal no aeroporto Salgado Filho (Porto Alegre) para seguir viagem. O motivo: minha identidade tem mais de 10 anos e, o principal, a foto é em preto e branco e  também tem mais de 10 anos, claro.

Segundo o pessoal da Gol, os policiais do Salgado Filho têm barrado os viajantes com identidades velhas, com danos (como rasgos ou letras borradas) e que tenham foto onde a pessoa não seja facilmente identificada. Ou seja, seu documento pode estar em perfeito estado, mas se eles quiserem achar não dá para te identificar pela foto, seu voo internacional vai pelo ralo. E, nesse caso, a companhia aérea não tem que dar nenhuma compensação financeira, porque a obrigação de apresentar a documentação necessária é do passageiro.

Não encrencaram comigo e eu embarquei rumo a Montevidéu numa boa. Mas foram horas de ansiedade e medo de ter que voltar para o Galeão sem aproveitar minha folga como tinha imaginado.

Vale sempre ligar para a sua companhia aérea para saber se há recomendações nesse sentido. Eu só fui avisada disso já no Galeão, na hora de entrar na fila do check-in. Até então a Gol não havia me recomendado que levasse documento atualizado. A minha identidade é antiga, mas é válida e está apresentável – inclusive para burocracias em cartórios. Mas se a PF não quisesse me deixar sair do país, não poderia fazer nada.

ATUALIZAÇÃO: Nos comentários, a Juliana levantou a questão da carteira de motorista. Eu respondi isso: “Eu até perguntei sobre carteira de motorista, embora eu não tenha. Eles disseram que serve só pra conferir a foto mesmo, e aí vai da cabeça do policial te deixar passar ou não. Documentos de viagem válidos mesmo para o Mercosul são identidade ou passaporte. E em POA estão implicantes com isso agora… Disseram que é recente, que antes não havia esse rigor. E, por isso, muita gente tem perdido a viagem, sem nem pensar que isso poderia acontecer”

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